Uma das receitas mais usadas para se criar uma peça de roupa de sucesso está na interação entre material (usualmente o tecido) e modelagem, a forma que se dá para esse material. A professora Maristela Novaes, do curso de Design de Moda da Universidade Federal de Goiás, define modelagem como “uma atividade fundamental no processo de design”. Em relação à criação de vestuário, a modelagem é a concretização de uma ideia, oferecendo possibilidades distintas de reconstrução sobre o corpo. A designer de moda Vivienne Westwood diz que o intuito é fazer com que o tecido dê expressão para o corpo.
A história da modelagem se iniciou junto com a criação e manipulação dos primeiros tecidos com intuito de proteção e sobrevivência. A evolução das técnicas revelou o poder de criar silhuetas que acompanharam e evidenciaram padrões de beleza e status nas diferentes sociedades mundiais. Como na China imperial, já bastante desenvolvida na tecelagem e no tingimento, na qual as mulheres abastadas competiam entre si pelo título de mangas mais largas. Ou as damas de companhia japonesas do período Heian que possuíam grande preocupação na combinação de cores de suas vestimentas, organizadas num sistema de camadas chamado irome no kasane, que sobrepunha túnicas de seda com as cores mais claras por cima e fazendo um degradê até as camadas mais internas. Os progressos em relação à costura, tecelagem e design de superfície também criaram novas possibilidades de estabilização e fechamento do vestuário durante a história. Cristóbal Balenciaga, Madeleine Vionnet e Madame Grès foram alguns dos grandes mestres da modelagem do século XX que contribuíram para o avanço de diferentes técnicas e silhuetas.
Maristela ainda especifica que existem diversas técnicas de modelagem de roupas, porém há duas mais usuais: a modelagem tridimensional e a plana. A modelagem plana ou geométrica transforma as dimensões do corpo em medidas e através de métodos matemáticos e geométricos constrói uma base corporal bidimensional que posteriormente será interpretada e transformada em algum modelo específico. A tridimensional, ou moulage, já começa sob a base de um corpo real, que pode ser um manequim ou um modelo vivo, num processo análogo à criação de uma escultura. A professora chama a atenção para um terceiro método, cada vez mais empregado na indústria, que é a modelagem digital, através de programas de computador, que permite agilidade na construção de bases, alinhamento perfeito das peças para o corte, etc. Esse método abstrai o corpo e suas dimensões, por estar representado na tela do computador, portanto sendo indicada para pessoas que já possuam conhecimento na modelagem manual.
O costume de produzir sua própria vestimenta já foi mais presente na vida das pessoas. Durante a época de ouro do cinema os estúdios licenciavam moldes prontos de figurinos usados pelas atrizes em seus filmes. Qualquer pessoa poderia reproduzir em casa determinados modelos usados em filmes de sucesso com figurinos de Edith Head, por exemplo. No Brasil os ensinamentos de Gil Brandão, em relação à costura e modelagem, foram significativos no desenvolvimento e na acessibilidade desse conhecimento no país. Gerações passadas possuíam o hábito da confecção de peças próprias talvez por necessidades financeiras, mas também porque questões relacionadas à costura eram diretamente impostas às mulheres como habilidades obrigatórias, com exceção da alfaiataria, sempre dominada pelo universo masculino. Hoje essas habilidades estão mais ligadas aos profissionais da moda. Entretanto as revistas de moldes continuam a movimentar a cultura do faça você mesmo e agora se pode contar também com sites, vídeos e blogs com tutoriais e fontes que apresentam diferentes perspectivas criativas como as séries de livros Pattern Magic e Drape Drape.
Entendimento sobre modelagem também é essencial para avaliar os ajustes necessários com uma peça já pronta porque ela evidencia a estrutura da roupa. Coco Chanel disse que “moda é arquitetura. É uma questão de proporções”, como a planta de uma casa, a modelagem é um projeto geométrico da vestimenta, que mostra onde pode ser alterado ou transformado sem que esta fique danificada ou corrompida.